Em março de 2024, Mato Grosso registrou o maior número de focos de incêndio do país, com 1.624 ocorrências entre os dias 1º e 31, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Desde janeiro, o estado acumula 3.334 focos, o segundo maior volume entre todas as unidades da federação no período, configurando um recorde para o primeiro trimestre desde o início do monitoramento, em 1999.
Os principais fatores que explicam esse aumento são: queimadas ilegais, estiagem prolongada e temperaturas elevadas agravadas pelo fenômeno El Niño. De acordo com o Instituto Centro de Vida (ICV), mais de 90% das áreas atingidas não possuem autorização para queima controlada. O uso do fogo é recorrente, principalmente em áreas de expansão agrícola situadas na transição entre os biomas Amazônia e Cerrado.
O crescimento dos focos ao longo dos meses é evidente: foram 847 em janeiro, 863 em fevereiro e 1.624 em março, um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2020, ano em que incêndios devastaram cerca de 4,5 milhões de hectares em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Entre os 20 municípios com mais focos de calor em março, 12 estão em Mato Grosso. O município de Nova Maringá lidera no estado, com 141 focos, seguido por Brasnorte (101), Nova Mutum (84) e Nova Ubiratã (67). A maioria desses municípios está localizada no bioma Amazônia. Ainda assim, Roraima lidera o ranking nacional, com os três municípios mais afetados: Caracaraí, Iracema e Cantá.
Diante da gravidade da situação, o governo estadual decretou estado de emergência ambiental e definiu o período proibitivo para uso do fogo em áreas rurais. No Pantanal, a proibição vai de 1º de junho a 31 de dezembro. Nas regiões da Amazônia e Cerrado, a restrição será de 1º de julho a 30 de novembro. Durante esse período, as licenças para queima controlada estão suspensas, e as queimadas em áreas urbanas seguem proibidas durante todo o ano.
A medida foi anunciada durante o lançamento do Plano de Ação de Combate ao Desmatamento Ilegal e Incêndios Florestais para 2025. Na ocasião, a secretária de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, destacou que o planejamento estadual está mais estruturado que em anos anteriores, com foco em enfrentar as adversidades climáticas previstas, como estiagem severa, ondas de calor, baixa umidade e ventos fortes.
A atuação conjunta do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, sindicatos rurais e prefeituras tem sido intensificada, com ações como a contratação de brigadistas, fiscalização em áreas críticas e capacitação de produtores. Em Lucas do Rio Verde, por exemplo, seis brigadistas foram contratados exclusivamente para combater incêndios, com apoio de uma caminhonete equipada e reforço militar.
Durante o ForestFire – Congresso Internacional de Gestão de Incêndios Florestais, realizado de 16 a 18 de junho no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá, o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso (CBMMT), coronel Flávio Glêdson Bezerra, apresentou os avanços no enfrentamento aos incêndios florestais. Ele destacou que, com 903 mil km² área maior que França e Alemanha juntas, Mato Grosso enfrenta desafios imensos por concentrar três grandes biomas da América do Sul: Pantanal, Amazônia e Cerrado.
Outro destaque é o programa de educação ambiental "Sentinelas do Amanhã", que busca alcançar mais de 427 mil alunos da rede pública estadual, promovendo desde cedo a conscientização sobre a prevenção ao fogo.
A tecnologia também é fundamental. O estado utiliza um sistema avançado de monitoramento, que integra imagens de satélite, automação e análise de dados em tempo real, permitindo respostas mais rápidas e estratégias mais eficazes.
O coronel Flávio Glêdson também ressaltou o trabalho do Comitê Estadual de Gestão do Fogo, que reúne mais de 40 instituições. Para 2025, o investimento na estrutura do Corpo de Bombeiros deve ultrapassar R$ 78 milhões, com foco especial no Pantanal, onde só em 2024 já foram registrados 140 incêndios florestais, sendo 16 de grande proporção. Em maio, a Operação Infravermelho fiscalizou mais de 51 mil hectares, aplicou R$ 17 milhões em multas e solucionou 70% dos casos em menos de 24 horas.
A capacitação contínua também é prioridade. Desde 2010, mais de 1.500 militares foram treinados em 17 cursos especializados em incêndios florestais, beneficiando profissionais de Mato Grosso e de outros estados. O comandante reforçou que o enfrentamento às queimadas exige tecnologia, mão de obra especializada e envolvimento da sociedade, com foco em proteger os biomas e garantir um futuro mais seguro.