Medo, insegurança, descaso e abandono marcam o cenário atual do campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, especialmente com o retorno das aulas presenciais. Estudantes enfrentam diariamente a precariedade na infraestrutura, a ausência de segurança adequada e a negligência com questões de saúde pública. Entre os principais problemas relatados estão pontos de água parada, que favorecem a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, além de ocorrências de furtos e casos de assédio dentro do campus.
A falta de segurança se reflete em episódios recorrentes de violência e furtos em laboratórios de pesquisa e extensão, como os das disciplinas de Farmacologia, Fisiologia e Parasitologia, que somam prejuízos superiores a R$ 40 mil. O impacto desses crimes compromete diretamente a continuidade das atividades acadêmicas e científicas, essenciais para a formação prática dos estudantes. Em resposta, alunos da Faculdade de Medicina chegaram a organizar protestos, cobrando ações efetivas da administração da universidade.
O campus universitário também tem sido cenário de crimes graves. Em maio, dois adolescentes, de 16 e 17 anos, armados com uma réplica de pistola, assaltaram três pessoas dentro da UFMT e fugiram com o veículo roubado, gerando uma perseguição policial pelas ruas de Cuiabá. Durante a fuga, os criminosos causaram dois acidentes de trânsito e destruíram o muro de uma residência, sendo detidos após intervenção da Polícia Militar. A arma utilizada foi localizada e apreendida na casa de um dos adolescentes.
Casos como esse evidenciam a fragilidade da segurança no campus. Em 2013, a Polícia Federal interrompeu uma atividade irregular de segurança privada conduzida pela própria UFMT, que contava com cerca de 40 funcionários sem treinamento ou credenciamento adequado, portando cassetetes, rádios comunicadores e viaturas adaptadas. A prática, considerada clandestina, descumpria normas legais e de segurança pública.
A crise se agrava com episódios como a prisão de um vigilante da universidade, condenado por estupro de vulnerável. Carlos José de Figueiredo, de 64 anos, foi condenado a 12 anos de prisão por abusar de duas pessoas e seguiu trabalhando normalmente até sua prisão, em 2025. O caso levanta questionamentos sobre a ausência de fiscalização efetiva e a responsabilização institucional diante de condutas criminosas praticadas por servidores.
Relatos de estudantes evidenciam o sentimento generalizado de insegurança, principalmente entre mulheres, que denunciam situações recorrentes de assédio, e entre alunos que circulam pelo campus à noite. Invasões a prédios universitários, como o hospital veterinário, também foram registradas, o que motivou manifestações por parte da comunidade acadêmica.
O déficit de efetivo policial em Mato Grosso contribui para a ineficiência da segurança pública no estado e, por consequência, na universidade. Em diferentes ocasiões, a UFMT foi criticada por falhas na organização de concursos na área de segurança, com ocorrências pontuais que chegaram a colocar em risco a validade dos certames.
Apesar de todos os problemas, a UFMT continua sendo a instituição que mais produz conhecimento científico em Mato Grosso. No entanto, a precariedade na infraestrutura, os riscos à saúde pública e os problemas com a segurança impactam de forma direta a qualidade da educação, além de colocarem em risco a integridade física e emocional dos alunos e servidores. A situação exige respostas urgentes e coordenadas entre a universidade, as autoridades públicas e a sociedade para garantir um ambiente minimamente seguro e adequado ao desenvolvimento acadêmico.
OUTRO LADO
A equipe do Jornal Centro Oeste Popular entrou em contato com a assessoria de comunicação da UFMT e solicitou uma nota de esclarecimento sobre os fatos.
A Universidade Federal de Mato Grosso informou que tem atuado no sentido de aumentar a segurança em seus câmpus com diferentes iniciativas. Entre elas, ao longo do mês de maio, 325 luminárias de LED estão sendo instaladas no câmpus de Cuiabá. Além disso, a Instituição tem garantido parcerias para ampliar o sistema de monitoramento interno com câmeras e busca recursos que possam ser utilizados na contratação de mais profissionais de segurança.
Estudantes e demais frequentadores do câmpus podem acionar a equipe de segurança, disponível 24h, pelo WhatsApp (65) 3615-8063, para reportar qualquer ocorrência e obter auxílio no encaminhamento dos casos às autoridades.