11 de Fevereiro de 2025

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ECONOMIA Quarta-feira, 07 de Dezembro de 2022, 10:42 - A | A

Quarta-feira, 07 de Dezembro de 2022, 10h:42 - A | A

MERCADO DA MEDICINA

Hospitais são investimentos cada vez mais atrativos

Marcelo Sandrin, médico dirigente do Santa Helena, destaca recuperação que dinheiro de fora possibilita à rede hospitalar na capital

VANESSA MORENO E ENOCK CAVALCANTI
Especial para o Centro Oeste Popular

Houve um tempo em que comandar uma empresa hospitalar era um desafio em Mato Grosso. Essa realidade, todavia, está mudando e de forma acelerada. Com 57 anos de história, o Grupo Santa, com sede em Brasília e posicionado como o maior grupo hospitalar do Centro Oeste, investiu forte em Mato Grosso, comprando o controle do Hospital Santa Rosa e do Hospital Ortopédico, em Cuiabá.

O mercado cuiabano também atraiu fortes investimentos do grupo Kora Saúde, presente em estados, que passou a controlar o Hospital São Matheus, no Jardim Aclimação.

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Essa injeção de capital no mercado da medicina no Estado é saudada pelo médico Marcelo Sandrin, um dos mais conceituados gestores dessa área, responsável pela gestão do Hospital Santa Helena.

“A gente tem que aplaudir!” - o doutor Sandrin, com uma vida inteira dedicada à medicina e à gestão hospitalar na capital, comemora a virada. Ele conhece bem a pedreira que é conquistar saúde financeira em um setor do mercado de capitalização tão complexa.

Para animar ainda mais o mercado hospitalar cuiabano, anuncia-se que a maior cooperativa de saúde da capital, a Unimed Cuiabá, vem planejando e já fazendo investimentos de verticalização em atendimento hospitalar e laboratorial para possibilitar melhor acolhimento à sua privilegiada clientela. Como divulgou o presidente Rubens Carlos de Oliveira Júnior, na comemoração do aniversário de 47 anos da cooperativa, em breve a Unimed Cuiabá deve inaugurar um hospital próprio, “empreendimento que nos enche de orgulho e que será o maior patrimônio físico assistencial e hospitalar da história da nossa Unimed Cuiabá”.

Para o médico Marcelo Sandrin, um dos mais antigos cooperados da Unimed cuiabana, a construção de um novo hospital pela cooperativa deve ocorrer caso ela tenha recursos e condições de prestar um serviço de qualidade. “A Unimed é uma grande cooperativa, a maior do Estado e uma das maiores do Brasil e ela deve partir para a verticalização, porque hoje os maiores custos para ela são os custos dos convênios que ela mantém e se ela tem condições de economizar e prestar um serviço adequado com unidades próprias de saúde, ela deve fazer isso”, pontifica o experiente administrador.
No entanto, como cooperado, Sandrin não deixa de dar seu pitaco,acreditando que a novidade pode deixar alguns cooperados insatisfeitos já que, segundo ele, a Unimed precisa prestigiar melhor o prestador do serviço médico. “Eu acho que a Unimed Cuiabá precisa passar por um enxugamento de sua máquina administrativa, porque os custos administrativos parecem ser bastante elevados e o cooperado, que é a porta de entrada da Unimed, tem uma remuneração baixa”, afirmou. 

Mercado de hospitais

Marcelo Sandrin comanda o Hospital Filantrópico e Beneficente Santa Helena, que atende tanto ao público particular, em um percentual pequeno, como ao público do Sistema Único de Saúde (SUS).

Com as expertises de médico, clínico geral por formação, intensivista, cardiologista e pneumologista, garante que seu principal objetivo como presidente dessa instituição, junto à administração, é atender muito bem a população. “Nós temos o maior patrimônio, além da credibilidade junto aos pacientes, uma administração sólida e temos que dar conta do nosso recado”, conta Sandrin, que diz comandar uma equipe que gira em torno de 500 pessoas, trabalhando full time dentro do hospital, em prol da saúde em Mato Grosso.

Há 40 anos à frente do Hospital Santa Helena e mesmo diante das dificuldades financeiras que um hospital filantrópico enfrenta por ter o SUS como seu principal cliente, Sandrin conta que ainda não parou para calcular o valor de mercado de um hospital como o que dirige. O motivo, como explica, é que o Santa Helena, apesar do atual rebuliço de investimentos na rede hospital de Cuiabá, “não está à venda”. Mas conta que já recebeu muitas propostas para prestar serviços em comodato com outras instituições. “Nunca pensei em vender, não tem porque vender, porque a minha missão não é essa. O Santa Helena não tem valor de mercado, tem um enorme valor social”, explica Marcelo Sandrin. 

“A minha missão como presidente é levar em frente o Santa Helena como ele é: um hospital filantrópico, beneficente, que tem a sua vocação em atender a população que mais necessita e que é a menos favorecida financeiramente. Nós nos orgulhamos de atender ao SUS”, completa.

Em meio às instabilidades do mercado hospitalar, Cuiabá, na virada do século, enfrentou um período de grave crise que resultou no fechamento das portas de nada menos que quatro hospitais: São Thomé, Santa Cruz, Modelo e Hospital das Clínicas. Além deles, o Hospital Jardim Cuiabá, hoje Complexo Hospitalar de Cuiabá, também enfrentou um período de crise por conta de uma briga judicial que envolvia a sua gestão.

Já no final de 2019, três grandes nomes do mercado hospitalar foram vendidos para investidores de outros estados, que resolveram estender os seus negócios até à capital mato-grossense do Agronegócio, demonstrando que investir em hospital na região, tal como em commodities, passou a ser também um negócio lucrativo. Foi assim que o Hospital São Matheus foi vendido para o Kora Saúde, no primeiro lance que impactou o mercado.

Depois a onda de negociações prosseguiu e também foi vendido o hospital particular Santa Rosa, fundado há 22 anos, controlado pela tradicional família Maluf, mas que acumulara dívidas milionárias. Um grupo de médicos cuiabanos também se motivou para investimentos no setor e
adquiriu o controle do antigo Sotrauma, transformado em Hbento. Na área da Saúde, chamou tambem a atenção o fato do Laboratório Carlos Chagas, um dos maiores do Estado, ter sido vendido para a Rede Sabin. 

Quanto à troca de controle nessas empresas líderes do mercado hospitalar cuiabano, Marcelo Sandrin, mesmo afirmando não saber de todos os meandros que levaram à negociação dos patrimônios, acredita que estamos diante de uma boa oportunidade para a capital de Mato Grosso conquistar um salto de qualidade no atendimento à população, diversificando e universalizando cada vez mais o atendimento. “Se bem administrados, como é fundamental na área de assistência médica e social, qualquer injeção de capital que venha melhorar os negócios a gente tem que aplaudir”, festeja.


Atendendo a população que mais necessita

Profundo amor à humanidade, generosidade para com outrem, caridade. É assim que o dicionário define a filantropia. Na área da saúde, em um país onde o atendimento médico segue precário, a principal missão de um hospital filantrópico é atender a população mais carente, sem interesse algum no lucro, apenas pensando no bem-estar do próximo.

É dentro desse molde, somado à uma metodologia mais antiga no sentido positivo de exercer a medicina, que o doutor Marcelo Sandrin comanda o Hospital Filantrópico e Beneficente Santa Helena, a grande maternidade do Estado, há 40 anos. “Nós temos o maior patrimônio, além da credibilidade junto aos pacientes, uma administração sólida e temos que dar conta do nosso recado”, conta Sandrin, que diz contar uma equipe que gira em torno de 500 pessoas, trabalhando full time dentro do hospital, em prol da saúde em Mato Grosso. Mesmo com a fama de maternidade mais ativa, o Santa Helena é um hospital multiespecialidades que faz cirurgias gerais, cirurgias de especialidades e até cirurgias plásticas, além de fazer atendimentos ginecológicos, ortopédicos, pediátricos, cardiológicos, entre muitos.

É o maior prestador de serviços em números de altas por mês em Mato Grosso, com aproximadamente 1.200 pessoas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Do mesmo modo, são cerca de mil internações por mês pelo SUS e a meta é sempre ultrapassar os números de atendimentos. “Temos contratos de especialidades e temos poucos contratos de alto custo, nós trabalhamos no médio custo do SUS e temos muito prazer nisso”, explica o presidente. “A minha missão é levar em frente o Santa Helena como ele é, um hospital filantrópico, beneficente, que tem a sua vocação de atender a população que é menos favorecida financeiramente. Nós nos orgulhamos de atender ao SUS”.

De acordo com Sandrin, o Santa Helena foi fundado por um grupo de médicos liderados pelo doutor Antônio Corrêa da Costa Neto, em 1964. Em 1967 foi inaugurada a primeira parte da sede e em 1982 a segunda. Marcelo Sandrin é natural de São Simão, interior de São Paulo e formou-se em medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vindo para Cuiabá três meses depois da inauguração da segunda parte do hospital, mesmo período em que deu início à sua caminhada na administração do Santa Helena.

“Eu vim para Cuiabá para ser médico e nunca deixarei de ser médico”, esclarece o doutor para que ninguém pense que a sua principal missão é ser administrador.  “Meu maior prazer é nunca ter abandonado a medicina, eu sou clínico, posso participar de procedimentos cirúrgicos, intervencionistas, sou intensivista, mas hoje basicamente atendo em consultório como clinico e cardiologista. Sou intensivista quando solicitado pelo hospital e trabalho muito na área de doenças pulmonares. Tenho o maior prazer e eu não vou nunca, se Deus me permitir, largar a medicina”, declara o médico que brinca: “Que Deus me leve com o estetoscópio no pescoço”.

Tabela do SUS precisa de reajuste de 100%

Mesmo tendo convênio com entidades privadas, o hospital filantrópico

Santa Helena já chegou a ter uma média de 80% dos atendimentos do SUS. Embora isso seja o motivo de algum prejuízo, visto que a remuneração do SUS “beira ao vil”, como classifica Sandrin, é também motivo de muito orgulho e prazer para a instituição de saúde que trabalha pelo bem da população mais humilde. “O prejuízo nós compensamos com uma luta junto às autoridades e reinvestindo no próprio hospital”, explica Marcelo Sandrin.

Questionado sobre a defasagem nos valores da tabela do SUS, Sandrin dispara: “Eu não consigo entender porque ninguém, nem a própria imprensa, parte pra cima disso: a interrogação de por que não se aumenta a tabela a valores dignos. Eu acho estranho nunca discutirem um aumento linear de 100% na tabela do SUS”.

O médico acredita que esse aumento poderia trazer tranquilidade a todos que dependem do SUS e, além disso, com melhor remunação, os profissionais prestariam mais e melhores serviços à população. 

“O dinheiro do SUS chega nas instituições completamente auditado e é só manter a estrutura de verificação que deve ser plena na área pública. O dinheiro é público, nós temos que gastar com respeito, com muita categoria e, obviamente, com muita eficiência”, aponta. 

Um médico à moda antiga

O médico Marcelo Sandrin é, como ele mesmo diz, um médico à moda antiga, que valoriza a relação médico-paciente. Ao ser questionado sobre a formação médica nas faculdades de Mato Grosso nos dias atuais, Sandrin afirma: “Não vejo nada de melhor tendo acontecido nos últimos anos na área da educação médica”. Segundo ele, “a educação não é tão boa hoje na área”. O motivo?

Para ele, a nova metodologia de ensinar medicina não parece ser tão equilibrada como era antigamente. Embora também tenha havido grandes defeitos na época de sua formação, ao fim da década de 70, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a educação antes de tudo priorizava o cuidado com o doente.

“A formação médica de hoje perde por colocar no mercado médicos que se sentem mais confortáveis apenas pedindo exames”, lamenta.
Marcelo Sandrin acredita que o foco do médico deve estar em ajudar pessoas a sobreviverem, ultrapassarem dificuldade e terem conforto em sua vida e para isso crê que é fundamental uma relação entre o médico e paciente, por isso é que, para ele, a telemedicina, muito badalada ultimamente, não passa de um disparate.

“Como examinar um doente através de uma tela do computador?!

Eu não aprendi isso e acho que ninguém deve aprender”, dispara. 

“É um absurdo sair da faculdade sem saber as minúcias da semiologia médica, onde a busca dos sinais, o exame físico do doente tem que ser privilegiado. Primeiro se identifica o doente, depois se colhe uma história do doente e só depois fazemos os exames”, ressalta e completa que “poucos exames podem colaborar com as nossas hipóteses, não há necessidade de tanto exames como vemos hoje e é uma coisa que me dói muito ver pessoas vagando com bolsas de exames pelos sistemas de saúde, milhares de reais sendo perdidos e sem diagnóstico, sem solução”. 

Embora a tecnologia tenha trazido muita evolução para a área médica, aos olhos de Sandrin, a telemedicina não é expressão de uma medicina de melhor qualidade. “Infelizmente, não vejo com bons olhos essa medicina atual, me perdoem”, sentencia.

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