Apontado como um dos líderes de uma facção criminosa em Mato Grosso, Luciano Mariano da Silva, o “Marreta”, confessou ter matado o colega de cela Paulo Cesar da Silva, conhecido como “Petróleo”. Em depoimento realizado nesta segunda-feira (18), na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o reeducando alegou que a vítima estaria atrapalhando o andamento de seus negócios ilegais ao repassar informações privilegiadas para agentes da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam).
O crime ocorreu na madrugada do dia 26 para 27 de outubro deste ano, em uma das celas da Penitenciária Central do Estado (PCE), no bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá-MT.
Acompanhado de seu advogado, Marreta disse ao delegado Caio Albuquerque que Petróleo estava prejudicando suas atividades ilícitas, como o transporte de drogas e armas. De acordo com o relato, a vítima ouvia conversas entre o suspeito e os seus comparsas e passava o conteúdo dos diálogos para a polícia, o que gerava inúmeros prejuízos ao faccionado.
Luciano contou que descobriu que o colega estava o entregando dois dias antes do crime, durante uma audiência referente à Operação Assepsia, no Fórum de Cuiabá, já que os depoimentos das testemunhas condiziam com as informações compartilhadas dentro da cela e que só Petróleo tinha conhecimento.
Após a sessão, Marreta perguntou para o colega o motivo que o levou a entregá-lo. A vítima teria respondido que conversaria sobre o tema posteriormente. A partir desse momento, conforme o depoimento do acusado, ambos passaram a se tratar como inimigos.
Na noite do dia 26 de outubro, Luciano revelou que decidiu assassinar o ex-companheiro no momento em que ele foi ao banheiro. Ele fez uma trança com o lençol da cama e o enforcou. Em seguida, ele aplicou um golpe de arte marcial na vítima e a fez inalar um perfume.
Após consumar o assassinato, Marreta ainda limpou o local e pendurou o corpo de Petróleo a 25 centímetros do chão, para tentar forjar um cenário de suicídio.
Luciano disse que agiu sozinho e eximiu os companheiros de cela de qualquer participação no caso. Ele disse que cometeu o crime por se sentir ameaçado por Paulo César.
Morte em cela
Segundo informações da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp-MT), os detentos da cela 21, do Raio 5 da unidade [onde ficam os presos de maior periculosidade] chamaram os agentes prisionais por volta de 5h30, do dia 27 de outubro.
No local, Paulo César foi encontrado pendurado, com um lençol amarrado ao pescoço. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada e constatou o óbito de Petróleo. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), onde passará por exames de necropsia.
Profissionais da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) foram até o complexo carcerário para realizar os trabalhos de apuração e coleta de provas para elucidar o caso, que será investigado pela Polícia Civil, por meio da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Operação Assepsia
O flagrante ocorreu no dia 6 de junho, quando um homem chegou a PCE e disse que entregaria um freezer na unidade. Na oportunidade, o Sindicato dos Agentes Penitenciários de Mato Grosso informou que, ao ser questionado sobre a nota fiscal do aparelho, o entregador disse que não a teria e saiu do local rapidamente, deixando somente o eletrodoméstico na frente do complexo.
Desconfiados da ação, os agentes conseguiram identificar um compartimento falso na porta do aparelho, onde estavam escondidos telefones, fones de ouvidos, chips e carregadores.
Equipes da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) estiveram na PCE e verificaram que não havia nenhum registro de entrada ou mesmo informações acerca da entrega do referido eletrodoméstico, o que fez aumentar as suspeitas quanto a participação da administração do complexo prisional no caso.
As investigações comprovaram também que, duas horas antes do freezer ser apreendido, os diretores do presídio e os militares envolvidos participaram de uma longa reunião a portas fechadas com Paulo César da Silva, o Petróleo, na sala da direção. Luciano Mariano Silva, o Marreta, também é acusado de envolvimento no caso.
Revétrio Francisco da Costa e Reginaldo Alves dos Santos e os policiais militares Cleber de Souza Ferreira, Ricardo de Souza Carvalhaes de Oliveira e Denizel Moreira dos Santos Júnior, foram presos no dia 18 de junho.