Graças ao garimpo, a poluição do Pantanal por mercúrio é uma realidade enfrentada há décadas. A extração de metais como ouro na região, principalmente entre os anos de 1980 e 1990, contribuiu para uma contaminação ambiental que tem seus efeitos sentidos até hoje, quase 40 anos depois. Recentemente, um estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) revelou que microorganismos contidos em duas espécies de plantas são capazes de promover a retirada de mercúrio de solos contaminados.
A pesquisa, desenvolvida pelo Instituto de Biociências em parceria com o Departamento de Engenharia Florestal da UFMT, descobriu que as plantas corticeira (Aeschynomene Fluminensis) e erva-de-bicho (Polygonum acuminatum), encontradas em Poconé, possuem microorganismos capazes de reter o mercúrio em si mesmos, liberando o solo do metal tóxico.
A descoberta foi possível ao observar que essas espécies cresciam bem em áreas altamente contaminadas: “A área que trabalhamos foi utilizada, na década de 80, como área para se fazer o enxágue, a separação do ouro e do mercúrio. Essa única área tem sete vezes mais mercúrio no solo do que o nível necessário para se isolar”, ressalta o professor Marcos Antônio Soares, doutor em biotecnologia e biodiversidade, e coordenador da pesquisa.
Com a reprodução de microorganismos encontrados nas duas espécies nas áreas contaminadas, os pesquisadores constataram que o mercúrio tinha praticamente desaparecido do solo. Isso é possível porque em parte a substância tóxica fica presa à planta e em parte é transformada em gás que é diluído na atmosfera, deixando de causar prejuízos. Microorganismo permite o bom desenvolvimento das espécies Aeschynomene Fluminensis e Polygonum Acuminatum mesmo na presença do metal tóxico mercúrio.
O processo natural de descontaminação de mercúrio pode levar décadas, mesmo após cessada a fonte de contaminação. Além de ser altamente tóxico, o metal também é bioacumulável e por isso, tende a passar por toda a cadeia alimentar de um bioma como o Pantanal. O resultado é que além da fauna e da flora, ele pode chegar ao homem via alimentação, por meio de animais, plantas ou água contaminada.
O resultado da pesquisa, que contou também com a participação de estudantes de doutorado, mestrado e graduação, encontra-se agora disponível para empresas interessadas em aplicar a tecnologia desenvolvida pela universidade. O estudo, que vem sendo desenvolvido desde 2017, só foi possível graças ao financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação (MEC).