Em depoimento prestado à Polícia Civil, o cabo da Polícia Militar Gerson Corrêa Júnior, apontado como o operador dos grampos ilegais, disse que a placa Wytron foi destruída, mas existe a possibilidade da perícia recuperar as escutas gravadas pelo sistema de instalação. Ele entregou nesta semana um dispositivo, denominado Hardlock, aos delegados que investigam o esquema de interceptações ilegais, denominado "Grampolândia Pantaneira".
A entrega do equipamento ocorreu mediante o interesse do cabo da PM em firmar acordo de colaboração premiada com a Justiça. Gerson explicou que este equipamento possibilitou a instalação do sistema Wytron e possibilitava inserir "barriga de aluguel" às escutas telefônicas.
O dispositivo também pode ajudar a desvendar se a placa utilizada para os grampos ilegais era a que pertencia ao Ministério Público Estadual. O cabo, que foi o primeiro a confirmar as interceptações ilegais no Estado, afirmou que, por meio deste dispositivo é possível recuperar as escutas gravadas de maneira ilegal.
A Polícia Civil deve determinar a realização de uma perícia na máquina para verificar a procedência das informações prestadas pelo cabo. O PM esteve na sede o Ministério Público Estadual (MPE), na tarde deste terça-feira (6) para prestar depoimento.
Pela manhã os coronéis Zaqueu Barbosa e Evandro Lesco também foram ouvidos. O MPE investiga a denúncia feita pelos militares de que promotores e, o então procurador-geral da Justiça, Paulo Prado, sabiam e teriam usado o sistema de 'barriga de aluguel' para interceptar celulares de pessoas investigadas em operações do Gaeco.
Nesta terça-feira, por meio de nota, o Ministério Público Estadual informou que a placa Wytron, usada para a prática de grampos ilegais durante a gestão de Pedro Taques (PSDB), foram cedidas pelo MP em abril de 2010 a antiga Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
O termo de cessão foi assinado pelo então procurador-geral de Justiça, Marcelo Ferra de Carvalho, e o atual secretário de Segurança, Alexandre Bustamante, que à época era adjunto de Assuntos Estratégicos da pasta.
Segundo os delegados, foi o cabo Gerson que entregou os dispositivos como uma forma de prova para um futuro direito a delação premiada.
A utilização da placa foi alvo de polêmica após reinterrogatórios dos policiais militares envolvidos nos grampos ilegais. O coronel Evandro Lesco e o cabo Gerson Luiz Correa Junior revelaram que a placa era a utilizada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) antes de implantação do sistema Guardião. Ele teria chegado às mãos dos militares através do procurador Paulo Prado, que chefiou o MPE por 4 vezes.
Já o coronel Zaqueu Barbosa disse que a placa chegou as suas mãos por meio do coronel Celso Henrique Barbosa, já falecido. Ele teria lhe informado que a origem do equipamento era do Rio de Janeiro.
Conforme a nota divulgada, “o procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges Pereira, informa que em 2010 o Ministério Público do Estado de Mato Grosso e a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) assinaram Termo de Cessão de Uso de Bem Móvel a Título Gratuito de duas placas e um Hard-lock da marca Witron. O documento foi localizado, em diligência, no Arquivo Central da Procuradoria-geral na última quinta-feira (01)”.
Na nota, o procurador-geral, José Antônio Borges, explica que o termo de cessão do equipamento previa que a devolução deveria ocorrer no prazo de seis meses. “Além disso, a sua destinação deveria ser exclusivamente ao uso nas atividades afetas às atribuições legais da Cessionária, no caso a Sejusp, sendo vedada a sua utilização em outras operações estranhas à que se propunha o Termo de Cessão”, assinala.
Agora, segundo o MPE, a investigação visa apurar que o equipamento chegou a ser devolvido ao órgão, ou se tiveram outro destino.