Irmãos de 9, 10 e 13 anos que desapareceram no fim de semana são afastados da família e encaminhados para um abrigo. Os 3 foram encontrados na segunda-feira (5) próximo a um supermercado, onde são conhecidos. A menina, que é a mais velha, e os irmãos menores são os mesmos que em fevereiro deste ano foram flagrados pela reportagem de A Gazeta no mesmo local, vendendo suco. A mãe vai ser investigada por abandono de incapaz. Mas denúncias de maus-tratos e abuso sexual também serão investigadas pela Polícia Civil.
Desta vez a situação foi ainda mais grave. Na manhã de segunda-feira, a mãe das crianças, Rosilene Fontoura Ferreira, procurou o Núcleo de Pessoas Desaparecidas (NPD), que funciona na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), tendo em mãos a ocorrência policial feita no domingo (4). Relatou que os filhos foram vistos pela última vez na tarde do sábado (3), por volta das 15h, na casa da avó, no bairro Alvorada. Depois disso não deram mais notícias.
A mãe afirmou à Polícia que os filhos não tinham motivo para sair de casa e também não tinham o costume de sair sem avisar. A partir da denúncia, equipes da DHPP e do Núcleo iniciaram diligências pela região do shopping Pantanal. Por volta das 11h, uma equipe do Núcleo flagrou de longe as crianças deixando um supermercado e correndo em direção ao ponto de ônibus. Os policiais bloquearam a saída do ônibus e ao entrarem se depararam com os 3 irmãos. Os meninos já haviam passado por baixo da catraca do veículo que seguia para Várzea Grande. O trio foi encaminhado para a delegacia, onde logo depois chegou a mãe.
As crianças pouco falaram aos policiais, apenas que haviam passado a noite de sábado para domingo, que foi bastante fria, no Parque das Águas, onde dormiram. Mas os policiais suspeitam que possam ter ficado em outro local. Afirmam que era visível o incômodo das crianças com a presença da mãe na delegacia. Inclusive chegaram a dizer que não queriam voltar para casa.
Pelo fato do endereço da família ser o bairro El Dourado, em Várzea Grande, foi acionada uma equipe do Conselho Tutelar do Jardim Glória para acompanhar a ocorrência. O fato de existirem registros anteriores envolvendo as 3 crianças, por crimes de maus-tratos e abuso sexual, elas não foram entregues à mãe.
As crianças seguiram com os conselheiros até a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, Criança e Idoso de Várzea Grande, onde foram ouvidas. Segundo o delegado Cláudio Alvares Sant’Ana, será aberto um inquérito policial para apurar as denúncias confirmadas pelas crianças. Inicialmente a situação aponta para o crime de abandono de incapaz. Mas a investigação pode ter desdobramentos.
Quanto à situação das crianças, caberá ao Juizado da Infância da Comarca definir sobre a guarda futura. A delegacia irá receber o relatório do atendimento feito pelo Núcleo de Pessoas Desaparecidas, ao qual foi anexada a matéria do Jornal A Gazeta.
De acordo com o Conselho Tutelar, a mãe das crianças mais uma vez negou qualquer tipo de negligência em relação aos cuidados com os filhos. Questionada sobre a possibilidade de abuso sexual, rapidamente justificou que o companheiro dela, padrasto das crianças, estaria trabalhando em uma propriedade na região de Chapada dos Guimarães (67 km ao Norte) há 20 dias e que não poderia ser responsabilizado. Alegou ainda que a filha mais velha não gosta de estudar e “carrega” os outros dois irmãos para a rua, contra sua vontade.
Risco
Apesar da mãe negar a negligência, os 3 irmãos são personagens conhecidos para quem vive e trabalha na região onde foram resgatados ontem. O jornalista Gustavo Castro disse que diariamente os irmãos vão até a rádio em que atua para pedir água. Isto ocorre durante toda a semana e nos dois períodos do dia. Colegas dele inclusive se sensibilizaram com a situação e já fizeram doações de roupas e sapatos. Depois da matéria veiculada em fevereiro, que mostrava eles vendendo sucos na rua, sumiram por um período, não vendendo suco, mas pedindo dinheiro.