05 de Julho de 2025

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POLÍTICA Segunda-feira, 01 de Novembro de 2021, 11:26 - A | A

Segunda-feira, 01 de Novembro de 2021, 11h:26 - A | A

CANDIDATURA ENVENENADA

De ministro petista a fiel bolsonarista, Nery Geller é apontado em casos nebulosos e acusado por danos ambientais

Além de ter sido preso pela PF em desdobramento da Operação Lava-Jato, deputado federal teria suposto envolvimento em grilagem de terras destinadas à reforma agrária;

HAROLDO ASSUNÇÃO, ESPECIAL PARA COPOPULAR

Afilhado político do megaempresário Blairo Borges Maggi - internacionalmente conhecido pelo vulgo “motosserra de ouro” pregado pela ong ambientalista Greenpeace quando governava Mato Grosso - e “ex,-queridinho” do PT, o deputado federal Neri Geller (PP) tem a pretensão de dar continuidade ao legado de seu padrinho no Senado da República, agora também sob as bênçãos do ainda presidente Jair Bolsonaro, do qual tornou-se aliado de carteirinha após a derrocada da organização chefiada por Lula.

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Possíveis valores para financiar o arquitetado plano ambicioso certamente não irão faltar, vez que os tubarões do agronegócio cujos interesses milionários o parlamentar defende com unhas e dentes bem afiados na Câmara Federal já dão sinais de disposição para gastar os tubos com o fim de o eleger senador.

VOTO CARO

O financiamento da cadeira por ele atualmente ocupada é prova disso, assim como explica sua atuação parlamentar diametralmente contrária às questões de fundo ambiental em razão das quais o Brasil tem sido mal olhado mundo afora - além de penalizado por retaliações de ordem econômica.

Sua campanha recebeu dinheiro de pessoas – e de familiares delas – multadas pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatamento em Mato Grosso.

O principal doador individual da campanha foi Elizeu Zulmar Maggi Scheffer – primo de Blairo -, que deu a Geller a módica importância de R$ 100 mil.

A autuação dos Maggi Scheffer, gigantescos produtores de soja sob a liderança do “Rei Eraí”, foi registrada em nome de Eraque Maggi Scheffer, por destruição da flora nativa na Fazenda Iguaçu, em Rondonópolis.

Outros doadores individuais da campanha de Geller foram flagrados pelo Ibama - caso de José Izidoro Corso, que doou à campanha do parlamentar R$ 25 mil, e foi autuado em Gaúcha do Norte, por desmatar a reserva legal do Pontal do Piranha.

O caixa eleitoral do parlamentar recebeu ainda R$ 19 mil de Inácio Camilo Ruaro e outros R$ 10 mil de Murilo Antonio Ruaro, parentes de Ivo Luiz Ruaro, autuado seis vezes pelo órgão ambiental entre 2012 e 2014.

No total, Geller declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter gasto mais de R$ 2,4 milhões para se eleger com 73.072 votos – ou seja, R$ 32,84 para cada sufrágio.

A título de comparação, Jayme Campos declarou à Justiça Eleitoral despesa de R$ 2.187.864,30 para ser eleito senador - recebeu o aval de 490.699 eleitores nas urnas, cada voto custou R$ 4,45.

REI MIDAS

A exemplo de outros políticos bastante conhecidos por estas plagas, Neri Geller também aparenta conhecer a magia atribuída ao “Rei Midas” - personagem da mitologia grega ao qual se atribui o extraordinário poder de transformar em ouro tudo aquilo por suas mãos tocado.

Nas eleições gerais de 2018, Geller declarou à Justiça Eleitoral R$ 9.018.296,15 em bens, montante dez vezes maior que o declarado doze anos antes, quando disputou uma vaga para a Câmara Federal, sem sucesso.

Entre os bens declarados nas últimas eleições há um posto de gasolina, o Geller Auto Posto, avaliado em meio milhão de reais, dois terrenos em Lucas do Rio Verde, com 650 m2 e 800 m2, avaliados, respectivamente, em R$ 438.112,00, e R$ 140.000, além de um apartamento no valor de R$ 715.000. Além disso, declarou quase R$ 3 milhões em máquinas agrícolas.

Geller é um dos políticos que compõem o ‘Mapa das Terras dos Parlamentares’, projeto do ‘De Olho nos Ruralistas’ - observatório independente fundado em 2016, enquanto site, e formalizado como associação em 2017, sob coordenação do jornalista Alceu Castilho, autor de “O Protegido – Por que o país ignora as terras de FHC” (Autonomia Literária, 2019) e “Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro?” (Contexto, 2012).

Aponta o observatório que Neri Geller é dono de terras em dois municípios mato-grossenses onde existem conflitos com povos indígenas que reivindicam seus territórios. Em Diamantino, no qual o povo Paresi disputa parte do território, o ruralista possui uma propriedade de 726 hectares. Em Sorriso, onde Geller tem outra fazenda, há embate com as etnias Kaiabi, Arapiaká e Munduruku.

OPERAÇÃO CAPITU

Ainda em 2018, após ser eleito para o terceiro mandato como deputado federal, Neri Geller foi preso pela Operação Capitu, um desdobramento da Operação Lava Jato, acusado de participar de um esquema de propinas do qual estaria à frente a empresa JBS.

O inquérito foi instaurado em maio daquele ano, baseado em declarações do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que denunciou pagamentos de propinas a servidores públicos e agentes políticos que atuavam direta ou indiretamente no Ministério da Agricultura entre 2014 e 2015 – quando Geller era titular da pasta.

A Polícia Federal apurou a suposta atuação de organização criminosa formada por empresários e executivos do ramo de processamento de carne bovina. O grupo dependia de normatizações e licenciamentos do Ministério da Agricultura e teria pago funcionários do alto escalão em troca da eliminação de entraves.

Geller foi solto após três dias, por força de ‘habeas corpus’ concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O deputado nega as acusações.

GRILAGEM

À época em que ainda era aliado à organização petista então homiziada no Palácio do Planalto, Neri Geller ocupava o Ministério da Agricultura quando foi citado em investigações contra invasão de terras públicas e fraude na regularização de áreas rurais destinadas à reforma agrária em Mato Grosso.

Na esteira da Operação Terra Prometida, deflagrada em 2014 pela PF, foram expedidos 52 mandados de prisão - entre os presos estavam Odair e Milton Geller, irmãos do então ministro.

O grupo foi investigado por supostamente aliciar e ameaçar posseiros no assentamento Tapurah-Itanhangá - um dos maiores da América Latina, com 115 mil hectares -, obrigando-os a vender seus lotes ilegalmente a preço vil.

As ameaças teriam envolvido pistoleiros de aluguel.

LEI NOCIVA

Colaborador do ‘agrobusiness’, Neri Geller foi relator da nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Projeto de Lei nº 3729/2004), proposição já aprovada pela Câmara dos Deputados.

O texto, enviado para votação no Senado, é considerado a proposta mais radical em termos de flexibilização do licenciamento ambiental já apresentada no Congresso Nacional e coloca em risco unidades de conservação, terras indígenas e comunidades quilombolas.

A propositura é amplamente criticada por ambientalistas em razão de afrouxar completamente uma das principais ferramentas de regulação da Política Nacional do Meio Ambiente.

O projeto simplifica processos e cria uma modalidade de autodeclaração, a Licença por Adesão e Compromisso (LAC) - que tornaria o licenciamento ambiental uma exceção.

Entre os pontos mais polêmicos da lei estão a exclusão de reservas indígenas e terras quilombolas não homologadas da avaliação de impacto e adoção de medidas preventivas.

A mudança impactaria 297 terras indígenas, ou 41% do total de áreas com processos de demarcação já abertos na Fundação Nacional do Índio (Funai), além de 84% dos mais de 1.770 processos de oficialização de áreas remanescentes de quilombos já iniciados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

A lei proposta dispensaria do processo de licenciamento ambiental a pecuária extensiva, semi-intensiva e intensiva de pequeno porte, obras de serviço público de distribuição de energia elétrica, sistemas e estações de tratamento de água e esgoto sanitário, obras em rodovias, manutenção ou melhoramento de infraestrutura em instalações pré-existentes e pesquisas de natureza agropecuária.

VENENOSO

Não é a primeira vez que o deputado Neri Geller assume a condição de algoz ambiental em suas ações políticas.

Quando titular do Ministério da Agricultura sob a ‘presidanta’ Dilma Roussef, Geller defendeu que o impedimento do uso de agrotóxicos já banidos em outros países - como o glifosato, relacionado ao desenvolvimento de câncer por inúmeras pesquisas científicas - poderia “banir a agricultura brasileira”.

Esse é resumidamente o prontuário do elemento que tem a pretensão de tornar-se nas próximas eleições representante mato-grossense no Senado da República - evidentemente para mais fazer chover na horta de seus financiadores, cujos interesses são verdadeira e despudoradamente por ele defendidos.

(Com André Antunes/EPSJV-Fiocruz)

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