A Polícia Federal descobriu que a empresa de um motoboy recebeu, nos três últimos meses de 2020, o montante de R$ 723,4 mil transferidos pela Desta Turismo Agência de Viagem, localizada em Cuiabá.
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A Desta Turismo é uma das empresas alvos da Operação Cupincha, deflafrada na quinta-feira (28) e que investiga um esquema de desvio de recursos na saúde de Cuiabá.
A empresa beneficiada pelas transferências é a Tele-Entregas Rápidas Vagner Fábio, que pertence a Vagner Fábio Rodrigues.
Conforme um relatório de inteligência financeira anexado ao inquérito da PF, Vagner seria um "motoboy-motociclista".
Ele foi alvo da Operação Cupincha, segunda fase da Curare, deflagrada pela PF na última quinta-feira (29) e teve bloqueio de bens no valor de R$ 723,4 mil.
A Desta, que encaminhou o montante à empresa do motoboy, também foi um dos alvos. Suspeita-se que a empresa de turismo era utilizada para lavar o dinheiro supostamente desviado da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá.
Valores
Segundo a PF, o grupo empresarial investigado pela Operação Cupincha recebeu, entre os anos de 2019 e 2021, mais de R$ 100 milhões da Prefeitura de Cuiabá.
Informações da Polícia Federal, transcritas na decisão do juiz Jeferson Schneider, da 5ª Vara Criminal de Mato Grosso, apontam que a Desta recebeu R$ 2,5 milhões, entre setembro de 2020 e maio de 2021, repassadas por três empresas do grupo e da pessoa física do empresário Paulo Roberto Jamur.
As empresas apontadas são: Smallmed Serviços Médicos e Hospitalares Eireli, Hipermed Serviços Médicos e Hospitalares S.A. e Paulo Jamur Sociedade Individual de Advocacia.
Lavando o dinheiro
Do montante de R$ 2,5 milhões, a empresa de turismo movimentou R$ 956 mil exclusivamente por meio de “saque eletrônico” sempre em valores inferiores a R$ 50 mil, diz a PF.
Os valores nunca alcançavam os R$ 50 mil porque, a partir deste montante, os bancos precisam fazer um comunicado ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão que fiscaliza movimentações financeiras suspeitas no Brasil.
“[...] Transferiram expressivo valor para Vagner Fábio Rodrigues, um ‘motoboy-motociclista’, também proprietário da empresa Tele-Entregas Rápidas Vagner Fábio”, consta em trecho da decisão.
“Dentre as movimentações da empresa Desta Turismo Agência De Viagem Eireli, no período de outubro a dezembro de 2020, foram identificadas 23 transferências no valor total de R$ 723.414,00 sempre em valores inferiores a R$ 50 mil, em favor do investigado Vagner Fábio Rodrigues”, consta na decisão.
Operação Curare I e II
A Operação Curare, deflagrada em 30 de julho deste ano, investigou uma suposta organização criminosa que atuava de forma a beneficiar “empresas parceiras” por meio de fraudes em contratações emergenciais e recebimento de recursos públicos a título “indenizatório”, em ambos os casos sem licitação.
A ação investigou crimes de corrupção ativa e passiva, contratação direta ilegal, modificação ou pagamento irregular em contrato administrativo, perturbação de processo e lavagem de dinheiro.
Conforme a PF, o grupo atuava na prestação de serviços especializados na saúde em Cuiabá, especialmente em relação ao gerenciamento de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e enfermaria exclusivos para o tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19.
Na primeira fase foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão tendo como alvos as empresas: Hipermed Serviços Médicos Hospitalares; a Ultramed Serviços Médicos e Hospitalares; a Smallmed Serviços Médicos e Hospitalares; a Medserv Serviços Médicos e Hospitalares; a Douglas Castro ME e a Ibrasc – Instituto Brasileiro Santa Catarina.
Ainda foi determinado o afastamento do então secretário de Saúde Célio Rodrigues, que ficou a frente da Pasta por 45 dias.
A segunda fase, denominada Operação Cupincha, foi deflagrada no dia 28 de outubro, para dar cumprimento a três mandados de prisão, 13 de busca e apreensão e o bloqueio de R$ 46 milhões em bens dos investigados.
Desta vez, foram cumpridos mandados de prisão temporária do ex-secretário Célio Rodrigues e do empresário Paulo Roberto de Souza Jamur, em Cuiabá e Curitiba (PR), respectivamente. O terceiro alvo é Liandro Ventura da Silva, que está foragido.
Segundo as investigações, entre os anos de 2020 e 2021, Paulo Roberto de Souza Jamur, Marcelo Pereira da Silva e outras pessoas ainda não identificadas, em nome das empresas investigadas, ofereceram vantagem indevida a Célio Rodrigues da Silva para se manter à frente dos serviços de saúde em hospitais municipais.
Célio e Paulo Roberto ainda são apontados como sócios ocultos da Cervejaria Cuyabana, comprada pelo grupo em fevereiro deste ano, supostamente com recursos da Ventura Prestadora de Serviços Médicos. No quadro societário da empresa está a mulher de Célio, Joany Costa de Deus, e Liandro Ventura.
Foram alvos de busca e apreensão na segunda fase as empresas Cuyabana Cervejaria Artesanal Ltda, Ventura Prestadora De Serviços Médicos Hospitalares Ltda., que tem como nome fantasia Hospmed, Medpremium Comércio e Distribuidora de Produtos Médicos e Hospitalares Ltda, e a Marina Morro do Chapéu, no lago Do Manso, onde foi apreendida uma lancha Cimitarra 380 Ht.