Médico sanitarista, sindicalista e militante, Lúdio Cabral (PT) pretende reservar seu primeiro ano de gestão para ouvir as necessidades da população por meio de seminários.
Entendendo as dificuldades na gestão da saúde, ele garante que o espaço precisa ser ocupado por quem tem um olhar técnico e experiência na área. Filiado ao Partido dos Trabalhadores desde a juventude, quando participou de lutas estudantis, Lúdio tem dedicado sua trajetória à defesa dos direitos sociais.
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Como político, já ocupou os cargos de Vereador e Deputado Estadual, sempre trazendo a saúde como sua principal bandeira. Agora, concorrendo ao cargo de Prefeito, juntamente à sua vice Rafaela Fávaro (PSD), pretende elaborar um plano de governo que abrace as causas femininas.
Centro Oeste Popular- Em várias oportunidades, o senhor ressaltou a importância de um governo participativo. Na prática, como será feito esse diálogo contínuo com a população, caso seja eleito?
Lúdio Cabral - Na prática, isso já começou desde a elaboração do nosso plano de governo. Todas as nossas propostas são resultado de um processo de intenso diálogo com a população de Cuiabá. Nosso plano foi elaborado em parceria com especialistas e profissionais das áreas de saúde, segurança pública, educação, cultura, economia, planejamento, gestão e mobilidade urbana. Representantes de diversos segmentos da população também contribuíram: entidades da sociedade civil, movimentos sociais, militantes dos partidos aliados, associações, servidores públicos, empresários, mulheres, jovens e idosos. Na nossa gestão, não será diferente. Vamos fortalecer os conselhos de todas as áreas, garantindo a escolha democrática de seus membros. Fortaleceremos o orçamento participativo. No primeiro ano de gestão, realizaremos seminários em todas as áreas para ouvir a população, os especialistas, os servidores e, a partir disso, implementar as mudanças necessárias para melhorar a qualidade de vida dos moradores da nossa cidade. Será uma gestão voltada para o interesse público, um governo com a participação de todos e para todos.
Centro Oeste Popular - Quais são os maiores desafios para convencer o eleitorado de Cuiabá a apostar em sua candidatura, considerando que a maioria tende a votar em partidos de direita?
Lúdio Cabral - Reconheço que existe uma resistência ao partido ao qual sou filiado em nossa cidade. Muitos eleitores têm críticas ao PT, e eu entendo isso. Mas o eleitor quer o melhor para a cidade. O eleitor cuiabano quer soluções para os problemas que nos entristecem todos os dias, como a precariedade na saúde. Esse é o principal problema da cidade, e para resolvê-lo é necessário um perfil técnico e com experiência na área da saúde. Esse é o meu perfil. O eleitor quer melhoria no transporte público também, porque todos os dias o trabalhador sofre na ida e volta do trabalho. O usuário do transporte público está cansado, e essa é uma ferida que precisa de alguém sem interesses privados interferindo nas decisões. Esse é o meu perfil. O eleitor não quer mais briga política. Quer alguém equilibrado, que tenha respeito pelas pessoas e que saiba dialogar. Esse é o meu perfil. Quando esses critérios são analisados e ponderados na avaliação entre os candidatos, acredito que os desafios se tornam menores. Confio no bom senso da população cuiabana.
Centro Oeste Popular - Sua campanha é marcada por alianças importantes, como o PSD e o PV. Como essas coligações influenciam as propostas apresentadas ao público?
Lúdio Cabral - A nossa coligação tem coragem e força para mudar Cuiabá de verdade, e acreditamos no poder transformador da política para construir uma cidade boa de se viver. Todos os partidos que estão conosco reconhecem o desafio a ser enfrentado em Cuiabá para construir uma cidade que ofereça dignidade e qualidade de vida à sua população. Por isso, o interesse público será nossa prioridade e norteará nossas decisões. Sou filiado ao Partido dos Trabalhadores desde minha juventude, fui vereador pelo PT e sou deputado pelo PT, mas também sou o candidato do PV, do PC do B, do PSD, da Rede Sustentabilidade, do PSOL e de todos aqueles que querem o bem da cidade e não querem ver a prefeitura se tornar um balcão de negócios ou cair no abismo do deboche e do despreparo. Minha candidata a vice, Rafaela Fávaro, do PSD, tem colaborado na formação do plano de governo e nos ajudará a construir um governo com participação feminina no comando de metade das secretarias, além de coordenar as políticas públicas voltadas para a mulher.
Centro Oeste Popular - Recentemente, houve uma denúncia sobre a precarização do local de trabalho dos servidores da área da saúde. Como profissional da área, o senhor já tem propostas para melhorar as condições de trabalho desses servidores em Cuiabá?
Lúdio Cabral - Sou servidor público e sei a dificuldade que é trabalhar em ambientes precários e insalubres. Como prefeito de Cuiabá, vou trabalhar para garantir condições dignas de trabalho em todos os serviços públicos, porque isso também é respeitar os trabalhadores. Na Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, fiscalizei todas as unidades de saúde estaduais e fiz requerimentos cobrando melhorias na estrutura física e condições adequadas para trabalho e atendimentos. Em uma dessas vistorias, no Hospital Estadual Santa Casa, em Cuiabá, constatei muitos problemas no local de repouso dos profissionais de enfermagem durante os plantões. Apresentei então um projeto que determina condições adequadas de repouso aos profissionais de enfermagem durante os plantões nas unidades de saúde públicas e privadas de Mato Grosso.
Centro Oeste Popular - A mobilidade urbana tem sido um dos temas centrais em sua campanha, com a proposta de tarifa a R$ 1,00. Isso é realmente viável em Cuiabá? Quais medidas seriam necessárias para viabilizar essa tarifa?
Lúdio Cabral - Apresentei um projeto de lei na Assembleia Legislativa para que a tarifa do BRT (Ônibus de Trânsito Rápido) seja de 1 real. Esse é o valor justo para o povo que tanto sofreu com a novela do VLT ao longo de todos esses anos. Essa tarifa é possível com o subsídio do governo de Mato Grosso, que já vendeu os vagões do VLT por 793 milhões de reais. O povo quer transporte de qualidade e barato, e é isso que eu defendo. Como prefeito, vou pautar essa questão até melhorar a vida da nossa gente, porque o que queremos é o BRT funcionando, licitado, com integração às linhas de ônibus para o restante da cidade. Sabemos que Cuiabá cresce todos os anos e, na nossa gestão, crescerá muito mais, de forma organizada e planejada. Então, com certeza, o transporte público não pode continuar estrangulando as pessoas por horas no trânsito caótico. É preciso mudar a maneira como a tarifa é calculada, porque hoje ela favorece os donos das empresas de ônibus, que colocam menos ônibus para circular e lucram com os veículos lotados. Vamos analisar os contratos para que as empresas coloquem mais ônibus nas linhas, e para que as pessoas viajem sentadas, em veículos com ar condicionado de verdade e com todo o conforto que nossa população merece.
Centro Oeste Popular - O senhor menciona em suas propostas a valorização da diversidade cultural e étnica da cidade. Existe diálogo com lideranças de movimentos sociais? Quais?
Lúdio Cabral - Existe e continuará existindo sempre o diálogo com os diversos setores da sociedade: movimentos sociais, artistas, servidores públicos, professores, o pessoal da assistência social e da saúde, ambientalistas e tantos outros. A população de Cuiabá me conhece e sabe que meus mandatos como vereador e deputado sempre foram baseados no diálogo, no debate e na construção de propostas para o bem comum da população. Na prefeitura, sobretudo, não será diferente.
Centro Oeste Popular - O senhor mencionou a intenção de se aproximar do governador Mauro Mendes, no entanto, ele apoia abertamente Eduardo Botelho e afirmou que seu grupo político nunca será eleito em Cuiabá. Como o senhor vê essas declarações? Acredita que o governador estaria disposto a cooperar com sua gestão, caso seja eleito?
Lúdio Cabral - Minha relação com o governador é pautada pelo diálogo e pelo respeito institucional. Tenho divergências com o governo em várias áreas, mas faço oposição propositiva e sistemática na Assembleia. Identifico os problemas e aponto o caminho para corrigi-los. Muitas das minhas sugestões e cobranças foram acolhidas durante o governo. O governador sabe disso e já reconheceu publicamente. Quando eu for eleito, tenho certeza de que ele saberá acolher também o resultado das urnas. O governador já foi prefeito de Cuiabá e tenho certeza de que o bem da população da capital de Mato Grosso está entre suas prioridades. Não há mais espaço em Cuiabá para briga política.
Centro Oeste Popular - Seus adversários, especialmente Eduardo Botelho, têm criticado sua experiência política e sua aliança com o presidente Lula, em um estado historicamente menos receptivo ao PT. Como o senhor responde a essas críticas?
Lúdio Cabral - Tenho a experiência de dois mandatos como vereador por Cuiabá e dois mandatos como deputado estadual, com ações importantes na Câmara de Cuiabá, como o primeiro projeto de lei de iniciativa popular da história de Cuiabá, contra o aumento do IPTU, que mobilizou 67 entidades e colheu mais de 22 mil assinaturas para reverter o aumento do IPTU dos imóveis edificados. Ainda no mandato de vereador, sou autor da lei que garante às gestantes saber o local do parto com antecedência e defendi o direito a acompanhante no parto, além de ter assegurado na justiça o direito ao passe livre estudantil e atuado junto com o Ministério Público para garantir o respeito à gratuidade para idosos, deficientes e doentes crônicos. Na Assembleia, defendi os pescadores artesanais, fui contra o confisco das aposentadorias e pensões que afetou a renda e a sobrevivência de milhares de famílias, além de ter atuado para garantir o pagamento da Revisão Geral Anual (RGA) aos servidores públicos. Durante a pandemia, atendi muitos pacientes como médico de forma remota, fiz projeções, recomendações aos governos sobre ações que deveriam ser realizadas e, principalmente, fiscalizei o Estado no combate à Covid-19. Sou autor da lei que cria o Protocolo Antirracista, da lei que previne e pune o assédio moral no serviço público, e também da emenda que permite a estudantes com autismo e outras neurodiversidades com alterações sensoriais não serem mais obrigados a usar uniforme nas escolas estaduais. Em todos os meus mandatos, sempre fui filiado ao PT do presidente Lula. Reconheço que há resistência ao partido, mas o presidente Lula vai nos ajudar a entregar os serviços, as ações e as obras com recursos federais que Cuiabá precisa para mudar de verdade. Na habitação, por exemplo, pretendemos construir 20 mil casas populares com o Minha Casa Minha Vida, um programa federal, e elas serão abastecidas com energia solar, proposta que conta com apoio do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. É preciso diálogo com o governo federal para melhorar a vida da população. Eu sei fazer e vou fazer.
Centro Oeste Popular - Durante a campanha, temos visto discussões acaloradas nos debates e nas redes sociais, especialmente entre o senhor e Eduardo Botelho. As acusações feitas por você têm gerado uma resposta positiva dos eleitores?
Lúdio Cabral - O eleitor cuiabano tem o direito de saber quem é quem na disputa pela prefeitura de Cuiabá. O eleitor cuiabano é inteligente e vai saber avaliar quem está mais preparado para o momento atual da cidade, para enfrentar as dificuldades na saúde e no transporte público, por exemplo. Eu não sou dono de empresa de ônibus, minha família não tem negócios milionários com a prefeitura. Eu não enriqueci fazendo negócios com o poder público. Sou servidor público, sou médico e especialista em gestão na área da saúde. Tenho trabalho prestado como médico, vereador e deputado. Os adversários não têm como esconder isso, porque a população de Cuiabá me conhece. Certamente, as informações que eu trouxe para o debate acendem o alerta na população. Sou o candidato que tem crescimento consolidado nas pesquisas, e isso é uma resposta positiva, porque as pessoas sabem identificar onde está a verdade.
Centro Oeste Popular - Em um debate recente, o senhor foi empurrado por Eduardo Botelho. Como esse tipo de agressão física afeta o cenário político e quais medidas acredita que devem ser tomadas para garantir que o debate público seja mais respeitoso e democrático?
Lúdio Cabral - Todos viram, eu fui empurrado e xingado pelo presidente da Assembleia Legislativa durante uma sessão, ao vivo e dentro do plenário, local onde as decisões importantes sobre o destino do nosso estado acontecem. Tudo porque eu apresentei um projeto de lei para garantir a licitação do BRT e a tarifa a 1 real. Isso mexeu com os interesses da família do presidente da Assembleia, que tem contratos com a prefeitura e iria ganhar o BRT sem licitação. Graças à minha iniciativa, o governador cancelou o contrato que passava o BRT automaticamente para a família do Botelho. Essa já foi uma vitória da população mato-grossense, principalmente de Cuiabá e Várzea Grande. O destempero, a violência, a agressão, surgem nessa disputa quando os interesses empresariais e particulares são confrontados, mas felizmente o interesse público prevaleceu. E é com o interesse público como prioridade que vamos fortalecer esse ambiente de debate mais respeitoso e democrático.