Na entrevista concedida ao Centro Oeste Popular, o Governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, abordou temas cruciais para a gestão do estado e o cenário político atual. Com um olhar atento à economia, o governador detalhou as medidas adotadas pelo governo para manter a competitividade do setor comercial, sem sobrecarregar o cidadão com aumento de impostos. Além disso, discutiu o impacto das políticas tributárias, a situação da Santa Casa de Cuiabá, os desafios fiscais e os planos de articulação política para o futuro, destacando a importância do diálogo entre o Executivo e o Legislativo. A entrevista também tratou de questões como a desapropriação de terras e as possíveis repercussões da PEC do RGA de 20%, revelando o compromisso de Mauro Mendes em buscar soluções para os problemas enfrentados pelo estado.
Centro Oeste Popular — Governador, ao renovar essa redução da carga tributária para o setor comercial, como o Estado pretende equilibrar a arrecadação sem comprometer investimentos em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura?
Mauro Mendes — Hoje, o Governo do Estado de Mato Grosso renovou a redução da carga tributária para o setor comercial. O grande objetivo dessa manutenção é, primeiro, manter a competitividade dos 23 mil estabelecimentos comerciais do nosso Estado. Isso inclui todos os segmentos, como bares, restaurantes, e todos os que dependem da atividade comercial. E, ao final, evitar o aumento dos impostos para o cidadão. Se o governo não renovasse essa redução, estaríamos, automaticamente, impondo uma carga tributária maior para a população. Já há alguns anos, temos perseguido a meta de não permitir o aumento da carga tributária e, principalmente, reduzir onde é possível. A partir do momento em que o Estado ganha eficiência, cumpre suas obrigações, ele pode, ao final, permitir a redução do que todos pagamos de impostos em Mato Grosso. Hoje, o Estado de Mato Grosso tem o menor ICMS entre os 27 estados brasileiros.
Centro Oeste Popular — Governador, ao criticar o impacto de tarifas e impostos na inflação e no bolso do cidadão, o senhor acredita que o atual modelo tributário brasileiro ainda penaliza demais o consumidor e a produção nacional? O que o seu governo tem feito para mudar isso, na prática?
Mauro Mendes — Todo aumento de impostos, com certeza, significa aumento de preços, o que impacta diretamente o bolso do cidadão e a inflação. O que todos estão acompanhando, essa chamada guerra tarifária do Trump, nos Estados Unidos, vai, objetivamente, levar a um aumento de preços dentro do país. Quando ele cria uma tarifa, e alguém importa um produto da China para os Estados Unidos — e eles importam muito — terá que pagar aquele imposto absurdo. E é óbvio que isso reflete no preço. E, naturalmente, isso impacta no bolso do cidadão americano. Isso serve como exemplo para eles lá, mas também vale para o Brasil. Se o Estado não for eficiente, se o Governo Federal não for eficiente, acaba cobrando muito do cidadão, das empresas e, no final, não presta um serviço de qualidade.
Centro Oeste Popular — Governador, diante da crise enfrentada pela Santa Casa de Cuiabá e da crescente preocupação da população com a possibilidade de fechamento da unidade, qual é a posição oficial do Governo do Estado sobre essa situação? Há articulação concreta para que o Estado contribua financeiramente ou de outra forma com a Prefeitura de Cuiabá, de modo a manter a Santa Casa em pleno funcionamento e garantir o atendimento à população?
Mauro Mendes — O Estado, como sempre, diante dos problemas, principalmente os mais complexos, tem uma postura de estudar silenciosamente e depois anunciar, após um aprofundamento das alternativas disponíveis. E já disse publicamente à imprensa que trabalhamos com duas alternativas. No momento certo, anunciaremos quais são.
Centro Oeste Popular — Governador, após sua participação no evento do União Progressistas, quais serão as primeiras ações concretas do seu governo para estruturar e consolidar a federação partidária aqui em Mato Grosso?
Mauro Mendes — É dialogar. A política demanda, diálogo, demanda a compreensão das diferenças que existem. Primeiro, na sociedade. Dentro dos partidos, você tem pessoas que representam diversos segmentos e pensamentos dentro dessa sociedade. E dentro do partido político, vamos ampliar isso agora com novos prefeitos que estão dentro dessa federação. Embora eu já dialogasse com todos, vamos dialogar com os deputados e líderes do Partido Progressista, embora já fizéssemos isso. Não vejo, assim, grandes mudanças, porque o diálogo e a boa convivência são práticas que já exercemos há muito tempo.
Centro Oeste Popular — Durante a confraternização promovida pela União Brasil, o senhor esteve ao lado do senador Jaime Campos. Houve alguma conversa inicial ou sinalização sobre uma possível articulação política visando as eleições de 2026?
Mauro Mendes — Fizemos uma pequena confraternização na sede do partido. Falamos de muitas coisas. Em uma reunião informal como essa, fala-se de política, fofocas, cenários atuais, fala-se da política nacional e, claro, um pouco sobre 2026. Eu, como sempre, tenho evitado gastar muita energia com 2026, pois, ainda preciso gastar muita energia com os problemas presentes em 2025.
Centro Oeste Popular — O STF determinou que o Estado viabilize a desapropriação de terras, após o recuo do governo em relação à expropriação. Qual a sua avaliação sobre essa decisão e como o governo pretende cumprir a determinação?
Mauro Mendes — Fiquei sabendo da decisão, mas não entrei nos detalhes. A procuradoria fará uma interpretação. No entanto, numa leitura rápida que fiz, que provavelmente todos vocês também fizeram, fica claro que ele diz que já existem leis no país, vigentes há muitos e muitos anos, que permitem que o Estado faça a desapropriação. Agora, a desapropriação tem que ser com pagamento. O Estado não pode ir lá desapropriar uma residência, um local, passar uma rodovia e não pagar por isso. Precisamos entender o que isso traz de novo. Se traz algo de novo, ele diz que são leis existentes no país há muitos anos e que ele interpreta dessa forma. Bom, vou ver com a procuradoria o que isso muda, na prática.
Centro Oeste Popular — Governador, na semana passada o senhor expressou preocupação em relação à PEC do RGA de 20% que está tramitando na Assembleia. No entanto, a deputada Janaína rebateu sua posição, afirmando que a Assembleia não tem essa prerrogativa. O governo cometeu um equívoco quanto a essa questão ou há, de fato, um conflito de entendimento entre o Executivo e o Legislativo sobre o RGA?
Mauro Mendes — Primeiro, a PEC, com a natureza que ela traz, por si só, representa um grande obstáculo. Ela começa por aí. O Legislativo deveria saber que o papel dele não é iniciar nenhum processo legislativo sobre o ordenamento do Executivo, criar despesa para o Executivo. Isso é matéria privativa do chefe do Poder Executivo. Bom, e lá, sim, há criação de despesa. Cria-se um ambiente que não é favorável para esse momento do Estado de Mato Grosso. Quando eles fazem isso, ou alguns fazem isso, estão exercendo o poder que têm, gastando dinheiro depois no Executivo, no Judiciário. Porque qualquer movimento para corrigir algo equivocado é uma perda de energia. Quantas vezes tivemos que ir ao Judiciário para derrubar algo que era inconstitucional? Movimento do Executivo, Movimento da Procuradoria, Movimento do Judiciário. Então, é importante que o nosso Parlamento, e a maioria, atue com responsabilidade. Pode discutir, pode, mas tem que entender que eles têm limites, assim como eu tenho limites. Eu não posso fazer certas coisas sem aprovação deles. E não faço. Nunca fiz nada que eu dependesse de uma autorização legislativa e tomei aqui via decreto. Da mesma forma, se a Constituição Nacional diz que o Parlamento Estadual não pode iniciar certos tipos de projetos de lei, seja PEC, lei complementar ou lei ordinária, eles não deveriam fazer isso, porque estariam perdendo o tempo deles, o tempo das pessoas, e fazendo mover desnecessariamente a máquina do Executivo e do Judiciário.