Uma semana após o Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco), do Ministério Público de Mato Grosso (MP), ter recusado as delações do ex-comandante da Polícia Militar de Mato Grosso, Zaqueu Barbosa, do coronel Evandro Lesco e do cabo Gerson Corrêa Júnior, o juiz da 11ª Vara Criminal Especializada em Justiça Militar, Marcos Faleiros, começará a ouvir os três militares nesta terça e quarta-feira (16 e 17), em reinterrogatório solicitado pelas defesas de todos. Zaqueu, Lesco e Gerson são acusados de serem os principais responsáveis pelo esquema de interceptações telefônicas clandestinas no âmbito da Polícia Militar de Mato Grosso, contra adversários políticos do ex-governador Pedro Taques (PSDB).
As solicitações foram feitas em março, com o aval do MP e acatadas pelo magistrado. No mesmo mês, os 3 militares iniciaram as tratativas de acordo de colaboração com o Naco, porém, foram rejeitadas sob
argumentos de que não trouxeram nenhum ‘fato novo’.
A tendência é que o coronel Zaqueu seja o primeiro a prestar depoimento. O ex-comandante da PM deverá confirmar o que Lesco e Gerson já disseram, além de trazer detalhes do possível envolvimento de Pedro Taques e seu primo, Paulo Taques.
Já Lesco deverá complementar tais informações a respeito dos supostos mandantes do esquema de arapongagem, assim como a tentativa de gravar o desembargador Orlando Perri, fato que culminou na Operação
Esdras em setembro de 2017. Lesco também deverá citar possíveis participações de membros do MP e interceptações ilegais, via ‘barriga de aluguel.
A tendência é que o cabo Gerson Corrêa mantenha o que disse e mostre mais detalhes do possíveis irregularidades que ocorriam no Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco). Ele deverá citar os 9 fatos que teria inserido em seu termo de colaboração rejeitado pelo MP.
Além dos fatos narrados da ‘grampolândia pantaneira’ no âmbito da PM, o cabo pode falar sobre suposta verba secreta no Gaeco, onde membros teriam falsificado notas para justificar os gastos, para evitar ‘sobra’ de orçamento, possível barriga de aluguel em operações, omissão na auditoria no Sistema Guardião, manipulação de áudios e vídeos, falsificação de assinaturas, entre outros assuntos. Faleiros já tem marcado as datas do julgamento da ação, que ocorrerá nos dias 14, 15 e 16 de agosto.
Além de Zaqueu Barbosa, Lesco e Gerson, são réus na ação o coronel Ronelson Jorge de Barros e o tenente-coronel Januário Antônio Edwiges Batista. Em suas alegações finais, o Ministério Público pede a
condenação de Zaqueu Barbosa pelos crimes de falsificação de documento público, falsidade ideológica e realização de operação militar sem ordem superior.
A condenação pode chegar até 23 anos de prisão. O MPE também pediu a condenação do cabo Gerson Corrêa por falsificação de documento público e falsidade ideológica, cuja pena pode chegar até 18 anos de prisão, devido à continuidade delitiva.
No caso de Evandro Lesco, foi solicitada a condenação pelo crime de realização de operação militar sem ordem superior, que prevê de 3 a 5 anos de prisão.