A empresa V. Scaff Gonçalves & Cia Ltda, que foi contratada no ano passado para prestação de serviços médicos de Medicina Intensiva em 10 UTIs Adulto para tratamento de covid-19 no Hospital Regional de Cáceres, não está habilitada para atuar em atendimento de alta complexidade.
A denúncia chegou de maneira anônima à redação do jornal Centro Oeste Popular, que identificou as irregularidades. Durante a apuração, o advogado da empresa ofereceu suborno para que a reportagem não fosse publicada, como veremos mais adiante.
O contrato entre a V. Scaff Gonçalves e a Secretaria de Estado de Saúde (SES) foi firmado em agosto do ano passado de forma emergencial por conta do aumento da infecção da doença no município. A empresa recebeu R$ 1.068 milhão para prestar os serviços nas UTIs por 180 dias, que se concluíram no último dia 2 de maio.
Apesar do contrato firmado, a razão social da empresa informa que ela atua apenas em “atividade médica ambulatorial restrita a consultas”, diz a cláusula terceira da empresa.
Em uma consulta pública pela internet, a empresa diz que sua atividade econômica principal é “atividades de atendimento hospitalar, exceto pronto-socorro e unidades para atendimento a urgências”. Ou seja, a V. Scaff Gonçalves não está habilitada para gerenciar uma unidade UTI.
A empresa pertence a Virgínia Scaff Gonçalves, sócio-proprietária e dermatologista, e fica localizada em Cáceres. A empresária também possui uma clínica de estética onde atende os clientes.
A reportagem ligou em seu consultório para saber se a empresária também tinha hospitais no município. A atendente disse que Virginia tem especialidade em dermatologia em pele, cabelo e unha. O valor da consulta é de R$ 400.
Suborno e obscuridades
A reportagem procurou a empresária Virginia para questioná-la a respeito da razão social da empresa que não descreve como objetivo atendimento em UTIs. Porém, não atendeu nossas ligações.
Porém, o advogado Everaldo Batista Filgueira Júnior (OAB 11.988-o), entrou em contato com o diretor do Grupo Millas de Comunicação, se identificando como advogado de Virginia e do Hospital Regional de Cáceres.
Durante a conversa telefônica gravada com o diretor do jornal, Maykom Milas, Everaldo disse que essa denúncia já havia sido apurada pelas autoridades e que sua cliente também é médica clínica e que a empresa possui outros médicos aptos a realizar atendimento em UTIs.
Questionado a respeito da razão social não constar a atuação nesta área, o advogado disse que era mera ‘irregularidade administrativa’. Ao ser informado que a reportagem sairia assim que a empresa apresentasse a sua versão, o advogado ofereceu dinheiro para que a denúncia não fosse publicada.
“Quanto vocês querem para não publicar a matéria?”, disse o advogado, que foi repreendido pelo diretor do jornal que informou que a chantagem também seria divulgada e que a ligação estava sendo gravada.
“Vocês querem publicar [a reportagem] por que?”, disse Everaldo pedindo que os questionamentos fossem encaminhados por email.
A reportagem voltou a questionar a capacidade técnica da empresa e os motivos da razão social não constar como objeto de atuação em unidades médicas intensivas, bem como o motivo da tentativa de suborno.
Como resposta via whatsapp, o advogado disse que a empresa possui toda documentação necessária para atuar no Hospital Regional de Cáceres, e que ofereceu dinheiro apenas como ‘deboche’.
O diretor Maykom Milas encaminhou a denúncia e tentativa de suborno para as autoridades competentes para as providências cabíveis.
A reportagem também entrou em contato com o secretário de Estado de Saúde (SES), Gilberto Figueiredo (DEM), que se mostrou surpreso com a denúncia e solicitou toda a documentação para que fosse encaminhado para a Procuradoria Geral do Estado (PGE) para apuração dos fatos.