A Mesa Diretora da Câmara Municipal de Cuiabá enviou à Comissão de Ética representação contra o vereador Abílio Júnior, que foi apresentada na sessão ordinária desta terça-feira (15). Caberá ao presidente da comissão, vereador Toninho de Souza (PSD) decidir pela procedência, ou não, da denúncia.
O autor da representação, o assessor da secretaria de Saúde, Oseas Machado, pediu a cassação do mandato de Abílio acusado de praticar atos incompatíveis com o cargo e de abuso das prerrogativas, como ofender colegas e disseminar mensagens classificadas como ofensivas por redes sociais. “Ele passa toda a sessão fazendo selfies, filmando e zombando dos colegas”, diz trecho do documento.
Abílio reagiu com ironia à representação, a terceira contra ele, o que já lhe garantiria o direito de “pedir música no Fantástico” (programa da TV Globo). Ele sugeriu que Oseas está indignado porque estaria sendo investigado por corrupção e que ele tem interesse na sua cassação, já que é o seu primeiro suplente e assumiria a vaga.
O documento, com data de 11 de outubro, foi lido na sessão ordinária pelo 1º secretário da Câmara, vereador Adevair Cabral (PSDB), um dos vários vereadores ofendidos por Abílio segundo a denúncia. Oseas anexou à representação CD com o áudio gravado de discursos de Abílio em ordem cronológica, onde se pode “inferir ofensas reiteradas à honra de vereadores e demais autoridades”, diz a representação.
Oseas relatou que no dia 26 de setembro de 2018 registrou um boletim de ocorrência na polícia contra Abílio Júnior por abuso de autoridade. Ele teria “invadido” o Hospital São Benedito, coagindo funcionários, intimidando a farmacêutica e pacientes. “Entrou já gravando, mexe em computadores, armários, sem autorização”, diz trecho da representação. O diretor geral do São Benedito ressaltou que Abílio foi à unidade como presidente da CPI da Saúde, e que ele é bem-vindo ao local, entretanto, é necessário que a visita seja agendada.
O documento traz a transcrição de vários eventos ocorridos em ordem cronológica, destacando trechos de discursos considerados por Oseas Machado como ofensivos aos colegas vereadores. Nem o presidente da Câmara, Misael Galvão, escapou das observações de Abílio consideradas jocosas e ofensivas por Oseas.
Na sessão de 10 de setembro, por exemplo, ao usar a tribuna para justificar o voto, Abílio Júnior disse: “Vamos liberar o Misael para almoçar. Tudo indica que está alterando o regimento interno por preguiça de trabalhar”, teria dito Abílio Junior.
Em outra ocasião, ao fazer um comentário, Abílio fez uma comparação com os dentes do vereador Juca do Guaraná: “nem os dentes são de verdade, são falsos, que nem os dentes do Juca do Guaraná”, disse, “causando perturbação [no plenário] que levou o presidente a suspender a sessão”.
De acordo com a representação, entre os vereadores ofendidos por Abílio em seus discursos também estão Adilson da Levante, Chico 2000, Dr. Xavier, Toninho de Souza, Renivaldo Nascimento, Clebinho, Mário Nadaf e Marcos Veloso.
Para embasar o pedido de cassação, Oseas também anexou prints de mensagens divulgadas por WhatsApp com mensagens provocativas aos colegas e também vídeos, num dos quais, em janeiro deste ano, Abílio foi repreendido pela juíza Célia Regina Vidotti, da Vara Especializada em Ação Civil Pública e Ação Popular de Cuiabá, durante vistoria realizada nas obras do novo Hospital Municipal de Cuiabá.
IRREGULARIDADES NO SÃO BENEDITO
Após a leitura da representação pelo vereador Adevair Cabral, Abílio Júnior usou a tribuna para contra-atacar. Ele disse que denunciou Oseas por corrupção e que ele responde a um inquérito no Ministério Público de Mato Grosso por várias irregularidades praticadas na gestão do Hospital São Benedito, que é utilizado como cabide de emprego, por pagar valores por fora para servidores “e outros atos ilícitos”. “Ele está indignado porque está sendo investigado. É o primeiro suplente da minha vaga”, disparou. Ele também disse que, quando esteve no São Benedito, o fez na condição de presidente da CPI da Saúde e tinha poderes para investigar.
O vereador Diego Guimaraes também saiu em defesa do colega e questionou a postura de Oseas Machado. “Ontem, o Poder Judiciário concedeu liminar contra Oseas e contra o site do Muvuca [Muvuca Popular] para tirar do ar matéria caluniosa, que o Oseas estava compartilhando”, disse o vereador.