Diogo Botelho, advogado de defesa do ex-comandante da Polícia Militar de Mato Grosso, Zaqueu Barbosa afirmou nesta quinta-feira (18), que espera que o depoimento prestado por seu cliente, em audiência com o juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Especializada da Justiça Militar de Cuiabá, seja enquadrado no benefício legal na delação premiada.
De acordo com ele, Zaqueu trouxe informações “preciosas” à investigação, que visa descortinar o esquema de escutas ilegais, conhecido como “grampolândia pantaneira”, implantado em Mato Grosso durante a gestão do ex-governador Pedro Taques (PSDB).
Botelho afirmou que a defesa já, inclusive, formulou um pedido ao juiz para que todos os depoimentos sejam encaminhados ao procurador-geral de Justiça José Antônio Borges e para o presidente do Tribunal de Justiça (TJ-MT), que tem como autoridade competente para receber o caso e ainda para o desembargador Orlando Perri, responsável no Judiciário, pelas investigações sobre as interceptações ilegais no governo de Taques.
“Crimes desta natureza dependem de colaborações. Durante 2 anos de investigação da ‘grampolândia’, não se chegou até o momento ao verdadeiro mandante dessa orquestra, mas a partir do seu depoimento, efetivamente chegou-se ao líder, ao arquiteto, ao beneficiário direto. Ou seja, o depoimento do Zaqueu foi responsável por descortinar quem foi o líder dessas escutas, por isso a defesa entende que seu depoimento amolda-se ao interesse da delação premiada, que tem como finalidade alcançar informações inalcançáveis pelas vias comuns de investigação”, defendeu o advogado.
“O depoimento do Zaqueu foi responsável por descortinar quem foi o líder dessas escutas, por isso a defesa entende que seu depoimento amolda-se ao interesse da delação premiada”
Durante audiência, Zaqueu Barbosa contou que em agosto de 2014, recebeu ordem direta do ex secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, e do seu primo, o ex-governador Pedro Taques (PSDB), para que iniciasse o esquema da grampos telefônicos. Leia mais detalhes do depoimento AQUI.
As denúncias estão sendo realizadas pelos coronéis Zaqueu Barbosa e Evandro Lesco, e pelo cabo da Polícia Militar, Gerson Corrêa. “É preciso esclarecer os beneficiários diretos do esquema, que são Pedro e Paulo Taques, conforme foi relatado em juízo. Efetivamente, eles engendraram as interceptações telefônicas. Zaqueu operacionalizou. (...) O juízo pode receber essas declarações como uma forma de colaboração efetiva, e com isso dispor ao colaborador os benefícios decorrentes da lei”, disse Diogo.
Segundo o advogado, “é preciso deixar claro que os policiais envolvidos não tinham qualquer interesse direto ou indireto com aquelas interceptações realizadas. Erraram, confessaram, estão arrependidos e contribuindo com a elucidação dos fatos. Erraram, sim, e não estão negando o erro”.
MOTIVAÇÃO
Segundo o advogado, a motivação para dar início aos grampos veio, segundo ele, pela necessidade que o então senador da República e candidato ao Governo do Estado, Pedro Taques, de se defender de possíveis ataques políticos. Para o advogado, a motivação foi intervir no antigo esquema de corrupção do Estado, liderado por políticos.
A ‘grampolândia pantaneira’ ultrapassa a órbita militar, alcança o Ministério Público do Estado, pode alcançar a Polícia Judiciária Civil (PJC). De acordo com os depoimentos dos PMs, dentre os envolvidos estariam o ex-coordenador do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), promotor Marco Aurélio de Castro e o ex-procurador geral do órgão fiscalizador, Paulo Prado, que teria doado, inclusive, a placa Wytron, que pertencia ao Gaeco, antes do Sistema Guardião, para que as interceptações fossem realizadas.
Logo após os depoimentos nesta quarta-feira (17), o procurador-geral José Antônio Borges emitiu um despacho avulso interno, que visa levantar as informações relacionadas a destinação da placa do computador, da marca Wytron, utilizada para realização de escutas telefônicas.
“Sem o depoimento desses militares não haveria qualquer encaminhamento para descontruir a grampolândia. Esse é o cerne da questão. Não fosse, inicialmente, o arrependimento de se apresentaram e disponibilizarem informações valiosíssimas para o fortalecimento da nossa democracia”.
BENEFÍCIOS DA DELAÇÃO
Os prêmios de um acordo de delação podem ir desde a diminuição da pena até o perdão judicial.