Antes de iniciar a coleta de assinaturas para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os grampos telefônicos, a deputada estadual Janaína Riva (MDB) disse que ainda são necessárias algumas medidas para avaliar se uma investigação por parte do parlamento irá ajudar a esclarecer os fatos. O próximo passo será uma reunião no colégio de líderes para sabatinar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Leonardo Campos.
A sabatina ocorrerá já na próxima semana, quando os deputados devem decidir se abrem ou não a CPI. Janaína revelou que fez novo pedido para se tornar parte da ação dos grampos, como auxiliar do Ministério Público Estadual (MPE), pois este havia sido negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em outra ocasião.
Agora, porém, ela acha que há um cenário mais favorável entre os desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) com o aceite da participação da OAB, por exemplo. Se conseguir, ela poderá, através dos seus advogados, fazer pedidos até mesmo pedidos de prisão preventiva dentro da investigação.
O requerimento da deputada já foi protocolado junto à 11ª Vara Criminal de Cuiabá, onde os militares estão sendo julgados. Caso seja aceito, ela poderá acompanhar e fazer petições durante toda a tramitação do processo.
“Quero me habilitar porque eu estou vendo que tal qual a OAB tem condições de participar, acredito que todas as partes envolvidas devem ter a mesma prerrogativa. Eu já tenho confiança no TJ e na justiça dentro do Estado de Mato Grosso. Tinha muito mais dúvidas quando à ação quando estava lá em cima do que agora, aqui. Eu vejo que o ambiente aqui é de uma revolta tão grande que não há como isso passar despercebido pelo TJ”, considera.
Para ela, nada disso comprometeria a própria defesa pessoal no caso. Ademais, no presente momento, os deputados devem mais é avaliar se não há prejuízo em concordar que um parlamentar possa ser grampeado de maneira ilegal, em barriga de aluguel, num processo de tráfico de drogas, de modo que isso não abra nenhum precedente e sem que nada aconteça. Apesar disso, afirma que confia numa investigação do MPE sobre o próprio MPE.
“Eu tenho confiança na instituição e disse isso a alguns promotores. Acho que promotor não pode se esconder atrás de instituição. A gente tem que saber separar as coisas. Uma coisa é um promotor cometer um ilícito, outra coisa é dizer que o MP o fez, porque instituição não comete ilícito, então, tem que respeitar esse papel. Não podemos colocar todo mundo no mesmo patamar por conta do deslize de um ou outro, mas acredito que os mesmos promotores não podem deixar que seus membros coloquem o nome do MP na lama e, na hora em que qualquer ação contra isso aconteça, venha a público dizer que o MPE não está se defendendo”, considerou.
Quanto às suspeitas levantadas pelos advogados, que aduziram que o dinheiro da tal conta secreta revelada pelos militares seriam valores retomados de Silval Barbosa e Pedro Nadaf, Janaína desconversou. "[Suspeita] sobre esse dinheiro não, mas a placa, por exemplo, ter sido doada sem autorização de colegiado ou qualquer ato público pra isso... para o nosso código penal, artigo 312, isso é crime e cabe prisão de dois a 12 anos. Acho que de tudo que foi dito até agora, o que tem prova mais contundente é isso".
A vice-presidente da AL também falou com todas as letras que já tinha muitas certezas quanto à grampolândia, como os envolvimentos do ex-governador Pedro Taques e do seu primo Paulo Taques, confirmados agora pelos depoimentos, além do próprio Gaeco, "que na época vários promotores saíram daqui e foram viajar, tiraram férias para abafar a situação toda. Por isso não cola o argumento de que querem atingir o MPE", disparou.
Sobre a revelação de que a então juíza Selma Rosane Arruda e a desembargadora Maria Aparecida Ribeiro mandaram ofício pra todos os magistrados pedindo que eles verificassem se havia alguma suspeita de barriga de aluguel em decisões destes e a hoje senadora ter supostamente mandado um ofício para o TJ e outro para o governador, a deputada se disse surpresa, pois estaria "diante de um fato novo". Porém, em sua percepção, esse fato se explica porque Taques e Selma eram alinhados politicamente.
"Depois entendemos o porque. Disputaram a eleição pelo mesmo partido [ela quis dizer coligação] e talvez tenha sido enganada, como a população toda foi. Vai ver ela achou que estava enviando para alguém que de fato fosse tomar uma atitude com relação aos crimes. Não consigo nem ver aí, a princípio, toda essa má fé, porque muita gente acreditou. Inclusive o próprio Mauro Zaque procurou o governador pedindo pra que ele tomasse posição sem saber que ele estava envolvido".