Uma pesquisa realizada no Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) descobriu na planta do guaraná um microorganismo capaz de combater agentes causadores de doenças em outras plantas, além de auxiliar no seu crescimento saudável. A descoberta ajuda a diminuir o uso desenfreado de defensivos agrícolas e fertilizantes na produção de alimentos.
Coordenada pelo professor Marcos Antônio Soares, doutor em biotecnologia e biodiversidade, a pesquisa identificou que uma bactéria denominada Streptomyces griseocarneus, retirada do guaranazeiro, quando inserida em uma planta de pimentão, combateu a atuação de patógenos, organismos que produzem doenças infecciosas em seus hospedeiros.
Desse modo, a pesquisa revelou uma alternativa natural de conter a proliferação de organismos como fungos, por exemplo. “Com a inserção dessa bactéria, quando algum patógeno tenta atacar a planta, ela resiste melhor. Então, você não precisar usar um agrotóxico como um fungicida, por exemplo.
Você está colocando na planta um microrganismo benéfico que vai ajudá-la a se desenvolver melhor, sem necessitar de fertilizante e ainda vai produzir mais, crescendo mais bonita, mais forte e mais alta”, apontou o professor coordenador da pesquisa. Ainda de acordo com Soares, a introdução da bactéria, já normalmente consumida no guaraná, não oferece risco ao ser humano. Além disso, a descoberta pode ajudar a diminuir os custos da produção, já que dispensaria o uso de fertilizantes e agrotóxicos nas lavouras.
O uso dessas substâncias na produção agrícola tem sido responsável por prejuízos ambientais como a contaminação de rios e lagoas, além de danos à saúde humana como intoxicação e casos de malformação congênita. “O custo ambiental que um produto químico tem e o risco que oferece para a saúde humana são muito altos. Usar uma bactéria como essa é muito mais barato para todos, desde o agricultor até o sistema público de saúde. Não estamos com isso pregando que não devemos usar agrotóxicos, afinal temos sete bilhões de pessoas no mundo que precisam de alimento. Mas, precisamos reduzir o uso desenfreado deles e em alguns casos, saber que nem precisamos usar”, pontua o professor.
O estudo que contou também com participação de Maria Isabela da Silva Figueiredo, bolsista de Iniciação Científica e estudante do curso de Ciências Biológicas, e da professora Rhavena Graziela Liotti, docente do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), testou outras bactérias encontradas no guaranazeiro em outras plantas, como a do milho.
O resultado encontrado foi semelhante, com a planta apresentando melhor desenvolvimento. A pesquisa agora segue fazendo testes em soja. Ciência em risco A pesquisa que descobriu os efeitos benéficos dos microrganismos em plantas de interesse da agropecuária foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação (MEC). Recentemente, a Capes sofreu uma significativa queda em seu orçamento.
O MEC anunciou no começo do mês, um corte de cerca da metade da verba destinada para bolsas de pesquisa, mas voltou parcialmente atrás semanas depois retomando o financiamento de 3.182 auxílios em todo o Brasil. Mato Grosso, entretanto, teve apenas cinco bolsas devolvidas. Já a Fapemat, em razão do decreto de calamidade financeira do Estado, tem se ajustado a um orçamento de apenas 35% do que havia sido previsto anteriormente.