A reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Myrian Serra, disse - nesta quarta-feira (17), durante entrevista coletiva - que foi surpreendida com a decisão da Energisa de cortar a energia nos campis da instituição, na última terça-feira (16). Segundo ela, havia uma reunião agendada para tratar sobre o pagamento. Além disto, pontuou que os R$ 4,5 milhões encaminhados pelo Ministério da Educação (MEC) não estavam disponíveis para fazer o pagamento, já que o repasse foi feito como uma espécie de ‘cheque’.
“Quero destacar para todos que a UFMT foi surpreendida por este corte de energia no dia de ontem. Tinha uma agenda amanhã na Energisa para falar sobre isto. Na sexta, a empresa ligou para nós dizendo que teríamos uma agenda. Tentei negociar se seria possível na quinta, já que estava em viagem. Considerando isto, disseram que na quinta conversaríamos sobre o corte”, explicou.
A reitora comentou que foi uma surpresa drástica e que estava em Sinop quando os cortes começaram. Todo o corte aconteceu em praticamente uma hora em todo o Estado. Myrian conta ainda que recebeu uma ligação da diretoria do Sesc Pantanal, relatando que estava sem energia elétrica.
“Nosso único servidor estava fazendo resistência, para evitar que a energia fosse cortada. A questão acabou minimizada porque não tínhamos pesquisadores internacionais e nem nacionais no local”, contou a reitora.
Myrian ainda revelou que, na sexta-feira, o governo descentralizou R$ 4,5 milhões e que o recurso chegou na forma de limite de empenho. “Isso é a mesma coisa que passar um cheque. Não é o dinheiro no banco para pagar. Ontem, com a questão do corte, técnicos do MEC entraram em contato comigo. Eu estava indisponível. Conseguiram falar com outra pessoa da gestão e relatamos que fomos surpreendidos”.
“Perguntaram o que precisávamos. Dissemos que era de R$ 1,8 milhão para pagar a fatura, que era R$ 1,5 milhão de conta do mês e o restante de divida. Só assim, liberaram pagamento ontem no início da tarde. Como o valor é muito alto, não conseguimos pagar ontem. Isso porque o Banco do Brasil só aceita até R$ 1 milhão”, acrescentou.
A equipe da UFMT então levou o comprovante de empenho até a Energisa, que aceitou religar a energia no prazo de uma hora. Segundo a reitora, foi uma ação bastante difícil e complexa. Ela pontua ainda que ninguém estava preparado para o que aconteceu, já que todos foram supreendidos.
“Não estávamos preparados, conversamos com a equipe para saber como vai ser daqui para frente. Hoje, não há qualquer dinheiro disponível para pagarmos fornecedores da UFMT. Efetivamente, os recursos não estão disponíveis no banco”, finalizou.
Entenda
O corte no fornecimento da energia elétrica nos cinco campi que compõem a Universidade (Cuiabá, Várzea Grande, Araguaia, Rondonópolis e Sinop), além da Base de Pesquisa do Pantanal e Casa do Estudante, ocorreu por volta das 10 horas da manhã de terça-feira (16). Os alunos se desesperaram e correram contra o tempo para salvar os animais e pesquisas nos laboratórios. No entanto, no Laboratório de Biociências, por exemplo, várias espécies de peixes usadas em pesquisa morreram. Por volta das 17 horas, o fornecimento foi restabelecido.
O MEC, em nota, pontuou que Weintraub tomará as medidas cabíveis tanto administrativas como judiciais para a responsabilização dos envolvidos pela má gestão na UFMT. “O ministro tomou conhecimento da situação na última quinta-feira (11) quando chamou a reitora ao Ministério e autorizou o repasse de R$ 4,5 milhões para que a reitoria da UFMT, nomeada há três anos, quitasse a dívida das contas de luz com a concessionária de Mato Grosso”, diz trecho da nota.
No entanto, o posicionamento da UFMT diz que a liberação só ocorreu após o corte, quando imediatamente um responsável se dirigiu até à Energisa para demonstrar o pagamento da fatura pendente. Com isso, a Energisa comprometeu-se a efetuar a religação da energia elétrica, o que ocorreu no final da tarde.
A unidade sofre com o corte de orçamento desde 2014, quando houve a redução da verba de custeio, relacionada às obras e equipamentos do câmpus. No entanto, em março deste ano, o Governo Federal anunciou o bloqueio de 30% na educação superior, que representa R$ 34 milhões para a Universidade.
Em entrevista ao Olhar Direto, Myrian Serra adiantou que a UFMT poderia ficar sem os serviços básicos como água e luz, caso o bloqueio não fosse revisto em até 60 dias, situação que não aconteceu.
Em maio, Myrian chegou a participar de uma audiência em Brasília, com o ministro da Educação, para debater os impactos do corte no orçamento universitário e outras questões referentes à pasta. Na ocasião, estiveram presente a bancada de deputados federais e senadores de Mato Grosso, além de outros representantes de instituições públicas de ensino superior do estado.
No dia 28 de junho, a UFMT informou que foi notificada pela empresa Energisa quanto à possibilidade de interrupção na prestação de serviços por falta de pagamento, mas que, em negociações, conseguiu o adiamento do prazo para a sexta-feira daquela semana.
A UFMT oferece 113 cursos de graduação, sendo 108 presenciais e cinco na modalidade a distância (EaD), em 33 cidades mato-grossenses. São cinco Campus e 28 pólos de EaD. Na pós-graduação, são 66 programas de mestrado e doutorado. A instituição atende 25.435 mil estudantes, distribuídos em todas as regiões de Mato Grosso.